sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Escolha o seu sonho (Cecília)

"Devíamos poder preparar os nossos sonhos como os artistas, as suas composições. Com a matéria sutil da noite e da nossa alma, devíamos poder construir essas pequenas obras-primas incomunicáveis, que, ainda menos que a rosa, duram apenas o instante em que vão sendo sonhadas, e logo se apagam sem outro vestígio que a nossa memória.

Como quem resolve uma viagem, devíamos poder escolher essas explicações sem veículos nem companhia - por mares, grutas, neves, montanhas e até pelos astros, onde moram desde sempre heróis e deuses de todas as mitologias, e os fabulosos animais do Zodíaco.

Devíamos, à vontade, passear pelas margens do Paraíba, lá onde suas espumas crespas correm com o luar por entre as pedras, ao mesmo tempo cantando e chorando. - Ou habitar uma tarde prateada de Florença, e ir sorrindo para cada estátua dos palácios e das ruas, como quem saúda muitas famílias de mármore... - Ou contemplar nos Açores hortênsias da altura de uma casa, lagos, de duas cores e cestos de vime nascendo entre fontes, com águas frias de um lado e, do outro, quentes... - Ou chegar a Ouro Preto e continuar a ouvir aquela menina que estuda piano há duzentos anos, hesitante e invisível - enquanto o cavalo branco escolhe, de olhos baixos, o trevo de quatro folhas que vai comer.

Quantos lugares, meu Deus, para essas excursões! Lugares recordados ou apenas imaginados. Campos orientais atravessados por nuvens de pavões. Ruas amarelas de pó, amarelas de sol, onde os camelos de perfil de gôndola estacionam, com seus carros. Avenidas cor-de-rosa, por onde cavalinhos emplumados, de rosa na testa e colar ao pescoço, conduzem leves e elegantes coches policromos ...

OH! Os  sonhos do "Poronominare"!  ...Lembram-se? Sonhos dos nossos índios: rios  que vão subindo por cima das ilhas ...meninos transparentes , que deixam ver o sol do outro lado do corpo...gente com cabeça de pássaros ...flechas voando atrás de sombras velozes...moscas que
se transformam em  guaribas...canoas...serras...bando de beija-flores e borboletas que trazem mel para a  criança que tem fome  e a levantam  em suas asas...Devíamos poder sonhar com as criaturas que nunca vimos e gostaríamos de ter visto: Alexandre, o Grande; São João Batista; o Rei Davi a cantar; o Príncipe Gautama...

E sonhar com os que amamos e conhecemos, e estão perto ou longe, vivos ou mortos... Sonhar com eles no seu melhor momento, quando foram mais merecedores de amor imortal...
Ah!... - (que gostaria você de sonhar esta noite?)”

Autora: Cecília Meireles
Fonte: Livro "Escolha o seu Sonho"

domingo, 16 de setembro de 2012

Meu Irmão

Em princípio rejeitado
Pelo medo da criança a encarar aprendizado
Depois veio a brincadeira
De cão, corrida e outras maneiras
Crianças que ignoram o que há de vir
A arte de viver e seguir

Brincadeiras que sustentam o sentido do momento
Esse sentido, meu irmão
Por quem tanto aprendi
A forma em que me fiz
Da essência hoje presente
Ainda que aprendiz

O presente do Universo
Mais doído aprendizado
Aceitação do que não se pode mudar
Coragem para lutar

Meu irmão é presença constante
Força a me mover em direção à minha essência
Emoção profunda que vem fácil
Lágrimas que expurgam
O desejo do controle
― capricho do que se quer
Ela que vem trazer aceitação da dor que cura
E dos momentos de alegria pura

Manifestação do mais puro amor
Expressão fácil, infantil, alegre e bela
Do simples querer
 ― ligar para as irmãs que tanto ama
Deixar recado, mesmo sem diretamente fazer
Resposta à preocupação de ontem
A deixar alegres corações no hoje

Motivo da esperança
Sinal do amor divino repetindo
Sentido oculto do que ainda não sabemos

Ah! Meu irmão! Nem sei se isso é poesia
Só sei que me toca a alma
Entre dor e júbilo
Saber que estou aqui
Que é preciso também chorar
Reconhecer a dor para poder curar
E ter sentido o se alegrar
E sem ponto nem vírgula me mover
Para mais uma vez poder Ser


Prema
16 de setembro de 2012

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Intermédio da Cura

Intermédio da cura...
Gera a própria cura
Médicos do amor
Alívio da dor
Importa tanto nessa vida
A certeza de saber que devemos viver e caminhar
Entre turbulência e calmaria
Curar feridas da alma revestida
Dor pungente que se sente

Intermédio da cura...
Reconhecer bálsamo que vem
Das folhas que acenam sob a brisa da manhã
Do sorriso amigo, às vezes desconhecido
Da palavra confortante que chega sem sabermos
Do livro de cabeceira com escritos do doce Mestre Jesus
Do alívio repentino que vem sem razão conhecida
O não da razão e o sim do coração

Intermédio da cura...
A certeza sem explicação
A entrega sem luta
E a luta pela entrega
Momentos que vêm e vão
Difíceis, serenos ou alegres
Mas sempre sublimes
Linha certa ou desvio

Intermédio da cura...
Bênção da Criação
Doar o que se é
E assim viver
Os momentos de cura de seu Ser

Prema
10 de setembro de 2012